Entrevista com Cristiano Costa - CBN Grandes Lagos
Neste programa, exibido em 22 de novembro de 2025, conversamos com Cristiano Costa, psicólogo e diretor de conhecimento da EBAC, sobre compulsões, consumismo e o impacto das bets no comportamento social. Ele explicou como a saúde mental ganhou relevância após a pandemia, a diferença entre obsessão e compulsão e os riscos de comportamentos exagerados, como compras, trabalho e apostas. Falamos também sobre o novo modelo regulatório das plataformas de apostas no Brasil, a importância do domínio “.bet.br” e da comunicação responsável em produtos de alto potencial compulsivo.
Entrevista Transcrita
Samilo Lopes:
Para você que nos acompanha pelos 90,9 FM, CBN, a rádio que toca notícias. Muito bom dia! Eu sou Samilo Lopes e este é o Bora Falar de Marketing deste sábado, um programa muito pertinente e muito interessante, com um convidado especial: o Cristiano Costa, da EBAC. A gente vai falar hoje sobre compulsividade, consumismo, apoio emocional, como essas compulsões funcionam dentro do marketing e os cuidados que precisamos ter enquanto consumidores e profissionais da comunicação. Até onde nossas abordagens são saudáveis? Onde começa o risco? Cristiano, muito obrigado por aceitar o convite. Seja bem-vindo e muito bom dia.
Cristiano Costa:
Bom dia, Samilo. Bom dia a todos os seus ouvintes. É um prazer estar aqui. Eu que agradeço. Estamos vivendo uma fase em que precisamos de muita conscientização, e vocês, profissionais da comunicação, são fundamentais para levar ao público informações importantes sobre esse universo de produtos e serviços que têm grande potencial compulsivo. Vamos conversar sobre isso. Vai ser um papo importante.
Samilo Lopes:
Cristiano, estava vendo seu LinkedIn. Você é psicólogo clínico e organizacional. Conta um pouco da sua formação e trajetória para o nosso ouvinte.
Cristiano Costa:
Eu sou Cristiano Costa, sou baiano e falo de Salvador, Bahia. Me formei na Universidade Federal da Bahia em 1997. Sempre tive paixão pelo trabalho clínico, esse contato próximo com as pessoas, essa possibilidade de apoiar de forma afetiva e consistente. Mas o trabalho clínico é de médio e longo prazo, e a psicologia oferece também o caminho da psicologia organizacional e do trabalho, que é atuar com empresas, melhorar processos de recursos humanos, humanizar práticas, trabalhar responsabilidade socioempresarial e ambiental. O trabalho é estruturante para a vida humana. Então eu costumo dizer que, como psicólogo, chuto com as duas pernas: o lado individual e o lado do trabalho.
Samilo Lopes:
Indispensável mesmo, principalmente hoje. O mundo corporativo está se conscientizando, ainda que devagar, e isso impacta toda a sociedade. Agora, entrando no nosso tema: compulsões. Algumas são mais visíveis, outras passam despercebidas. Faz um panorama geral.
Cristiano Costa:
Depois de 2020, com a pandemia, a saúde mental veio para o primeiro plano. Antes disso, quando falávamos sobre saúde mental, muita gente reagia de forma defensiva: “Você acha que eu tenho problema?”, “Está falando de psicoterapia?”. Depois da pandemia, houve uma grande valorização do tema. A profissão de psicólogo também mudou bastante porque o atendimento online se tornou comum. Hoje atendemos pessoas do país inteiro. Dentro da psicologia existe a psicopatologia, que estuda ansiedade, depressão, pânico, compulsão. E compulsão, de forma simples, é um exagero. É quando a pessoa tenta resolver um problema com um comportamento que não tem relação com aquele problema. Por exemplo: alguém inseguro come um chocolate e, por alguns segundos, aquela insegurança some. Mas depois o chocolate vira bebida, vira droga, vira aposta, vira excesso de trabalho, vira sexo compulsivo. Nenhum desses comportamentos resolve a causa real. O chocolate não resolve insegurança. A aposta não resolve vulnerabilidade financeira. A droga não resolve conflitos internos. A compulsão promete um alívio rápido, mas não trata o problema.
Samilo Lopes:
E onde entra a obsessão nisso?
Cristiano Costa:
A obsessão está no pensamento. A compulsão está no comportamento. O obsessivo rumina pensamentos; o compulsivo age demais. No TOC, transtorno obsessivo-compulsivo, os dois se combinam. A pessoa pensa: “Será que fechei o gás?”, e vai lá conferir cinquenta vezes.
Samilo Lopes:
Perfeito. Mudando um pouco: você é CEO da EBAC?
Cristiano Costa:
Não, sou CO, diretor de conhecimento.
Samilo Lopes:
O primeiro CO que eu conheço! (risos) Vamos voltar ao tema. Consumismo. Algumas formas são óbvias, outras passam despercebidas. Comenta sobre isso.
Cristiano Costa:
Toda compulsividade tenta aliviar angústias humanas. Como todos temos angústias, todos temos algum grau de comportamento compulsivo. O problema é quando isso vira excesso prejudicial. Quem fuma, no início tem alívio; depois surgem problemas pulmonares, conflitos familiares. No consumo é igual: comprar dá prazer, mas a conta chega. Muitas vezes, por trás das compras constantes — como a pessoa que compra blusinhas o tempo todo — existe insegurança emocional, baixa autoestima. Mas nenhuma roupa resolve insegurança afetiva. Cada compulsão traz consequências específicas: saúde, bolso, relações, até risco de vida — como esportes radicais praticados com frequência exagerada.
Samilo Lopes:
E hoje a bola da vez são as bets, né?
Cristiano Costa:
Sim. O Brasil tem uma relação forte com jogos. A Mega da Virada é prova disso: vira uma febre nacional. Isso mostra que as pessoas têm o desejo profundo de mudar radicalmente a própria vida. Mas existe diferença: quem quer ser milionário vai para loteria; quem quer ganhar um “trocadinho” vai para as bets. As bets fazem parte da microeconomia. E a solução não é proibir, é regular. A legislação começou em 2018, mas só recentemente passou a ser aplicada de verdade. Hoje, para ter conta em bet regulada, o apostador precisa definir limites de tempo e de dinheiro. A aposta não é meio de vida. É entretenimento com risco. E outra coisa muito importante: bets reguladas terminam em “.bet.br”. Se não tem esse domínio, não é regulada.
Samilo Lopes:
Muito importante esse alerta.
Cristiano Costa:
E ainda há um detalhe que muita gente não sabe: toda bet regulada é uma concessão pública. O governo autoriza, exige CNPJ no Brasil, sócios identificados, pagamento de outorga, governança rígida e parte da arrecadação vai para finalidades sociais. Existe também o RTP, return to player: a cada 100 reais apostados, 85 reais obrigatoriamente voltam para os apostadores em forma de prêmio. Os jogos são auditados por empresas independentes.
Samilo Lopes:
E sobre publicidade das bets?
Cristiano Costa:
Em julho de 2024 foi publicada a Portaria 1.231, conhecida como Portaria do Jogo Responsável. Ela trata de publicidade e saúde mental ao mesmo tempo. As bets reguladas precisam oferecer autoavaliação, orientação especializada, equipe treinada para identificar apostadores em risco e encaminhar para psicólogos — é onde entra a EBAC, com nosso time. Também oferecemos psicoeducação pelo programa Compul Safe. O CONAR criou um manual específico para bets. E acredito que essa lógica deveria ser aplicada a outros setores com produtos potencialmente compulsivos — como o álcool e o crédito fácil. Todo mundo já viu propaganda oferecendo crédito para negativado, o que é extremamente arriscado.
Samilo Lopes:
Cristiano, foi um programa espetacular. Muito obrigado pela clareza e pela profundidade. Fica o convite para voltarmos ao tema.
Cristiano Costa:
Eu que agradeço, Samilo. Estou à disposição. O tema é profundo e muito importante. Vamos juntos.
Samilo Lopes:
Esse foi o Cristiano Costa, psicólogo clínico e organizacional, diretor de conhecimento da EBAC. Obrigado pela presença. E obrigado a você que nos ouviu. Este foi o Bora Falar de Marketing deste sábado. Até a próxima semana. Um grande abraço e até mais.
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