Entrevista com Prof. Adriano Mauro Cansian - CBN Grandes Lagos
Neste programa, publicado em 18 de outubro de 2025, conversamos com
o Prof. Adriano Mauro Cansian, pesquisador da
Unesp de São José do Rio Preto e referência nacional em
cibersegurança e inovação tecnológica, sobre o papel das universidades públicas no avanço da pesquisa científica, as parcerias com empresas privadas, o combate a fraudes digitais e o desenvolvimento do primeiro sistema brasileiro de inteligência de ameaças cibernéticas.
Entrevista Transcrita
Samilo Lopes (Entrevistador): Bom dia, professor! Sempre um prazer tê-lo aqui. Já esteve com a gente há uns dois meses, quando falamos sobre a Silo. Hoje o tema é cibersegurança. Vamos falar sobre as pesquisas da Unesp e o trabalho que vocês têm realizado. Para começar: há quanto tempo na universidade e qual é o papel do laboratório ACME?
Prof. Adriano Mauro Cansian (Convidado): Na Unesp, já são 33 anos. Comecei em 1992, sempre na área de redes e internet. Fui diretor de tecnologia da universidade por oito anos e também da Secretaria de Educação. Em 1995, fundei o que acredito ter sido o primeiro laboratório de segurança cibernética no Brasil — na época, ainda chamado de Laboratório de Segurança de Computadores e Redes. O nome ACME vem de Advanced Countermeasures Environment — “Ambiente Avançado de Contramedidas” — e foi uma brincadeira com o coiote do desenho “Papa-Léguas”. O laboratório nasceu com apoio da IBM, em um projeto de pesquisa que deu o pontapé inicial. Desde então, temos trabalhado com inovação e formação de alunos em segurança cibernética, sempre com foco na pesquisa aplicada e nas demandas reais do mercado.
Samilo Lopes: O público talvez não saiba o quanto é difícil aproximar universidade pública e empresas privadas no Brasil. Como isso acontece na prática?
Prof. Adriano Mauro Cansian: Essa é uma ótima pergunta. Até uns dez anos atrás, havia uma separação muito grande entre universidade e setor privado. Hoje isso mudou — e há uma legislação clara que regula essa relação.
Quando uma empresa financia um projeto de pesquisa, e desse trabalho nasce uma patente ou inovação, a propriedade intelectual é compartilhada: metade da universidade, metade da empresa. A Unesp oferece estrutura, professores e alunos; a empresa paga bolsas, compra equipamentos e financia as atividades.
Tudo é formalizado em um contrato tripartite entre empresa, universidade e fundação interveniente — no nosso caso, a FUNDUNESP. Essa fundação administra os recursos, emite notas fiscais e repassa os pagamentos para bolsistas e insumos. Hoje conseguimos firmar contratos em cerca de 90 dias, quando antes levava até um ano.
Samilo Lopes: Professor, o que está sendo pesquisado hoje dentro do ACME?
Prof. Adriano Mauro Cansian: Nosso principal projeto atual, iniciado em 2019, é voltado à identificação de fraudes em nomes de domínio — o famoso DNS (Domain Name System).
Quando alguém registra um domínio, como cbnrp.com.br, existe todo um processo técnico. Mas há criminosos que registram endereços falsos, como promocaocbn.com.br, para aplicar golpes. Nosso laboratório desenvolve sistemas que identificam esses registros fraudulentos e, usando inteligência artificial, tentam prever quais domínios falsos podem ser criados no futuro.
Essa pesquisa é financiada por empresas privadas e intermediada pela Agência Unesp Inovação. O objetivo é criar o primeiro feed brasileiro de inteligência de ameaças cibernéticas, o que chamamos de Cyber Threat Intelligence.
Atualmente o Brasil ainda depende de feeds estrangeiros — o que é perigoso, porque se o atacante for o mesmo fornecedor da informação, ficamos vulneráveis. Nosso sonho é desenvolver uma estrutura nacional, com tecnologia própria, para monitorar e reagir a ataques cibernéticos.
Samilo Lopes: Isso tem tudo a ver com marketing também, já que campanhas digitais e sites dependem de domínios.
Prof. Adriano Mauro Cansian: Exato. Todo site ou aplicativo depende desse sistema. Quando você digita cbnrp.com.br, o DNS traduz esse nome para um endereço IP, que é como se fosse um número de telefone na internet.
O problema é que milhares de domínios são registrados todos os dias. Só no Brasil, cerca de 2 mil novos registros diários, dos quais 1,2% são tentativas de fraude. O sistema brasileiro é rigoroso e bloqueia a maioria, mas sempre há brechas.
As fraudes são parecidas com aqueles boletos falsos que muita gente recebia há anos. No exterior, a situação é pior: domínios ponto com praticamente não têm controle. Por isso nosso foco é desenvolver sistemas que reconheçam e bloqueiem essas ameaças em tempo real, inclusive quando vêm de fora do país.
Samilo Lopes: Essas pesquisas envolvem parcerias internacionais e grandes empresas. Quais nomes você pode citar?
Prof. Adriano Mauro Cansian: Algumas parcerias já encerradas podem ser mencionadas: UOL, Cisco, Juniper e até agências de inteligência brasileiras já nos financiaram.
Atualmente temos acordos de cooperação com o Registro.br e com o Netherlands Labs, na Holanda. Além disso, estamos em negociação com a empresa Silo, aqui de Rio Preto, para um projeto de coleta e análise de ataques cibernéticos — já com protótipo em funcionamento.
Esse novo sistema deve ser de código aberto, por exigência do financiador. Queremos que ele seja acessível à comunidade científica e tecnológica, fortalecendo o ecossistema nacional de segurança digital.
Samilo Lopes: Professor, onde o público pode conhecer mais o seu trabalho ou participar dessas pesquisas?
Prof. Adriano Mauro Cansian: Sou fácil de achar: Adriano Mauro Cansian, no LinkedIn, ou pelo e-mail adrianocansian@unesp.br. Estamos com o processo seletivo de mestrado aberto para 2026, com vagas na área de segurança cibernética no programa de pós-graduação da Unesp Rio Preto.
Quem quiser saber mais pode procurar o site da Unesp ou entrar em contato comigo.
Samilo Lopes: Excelente conversa, professor. Muito obrigado por compartilhar conhecimento e mostrar como a pesquisa pública pode impactar o país.
Prof. Adriano Mauro Cansian: Eu que agradeço. É sempre um prazer participar e falar sobre tecnologia e segurança.
Samilo Lopes: Esse episódio do Bora Falar de Marketing fica disponível no blog samilo.com.br, com todos os links e referências citados. Um grande abraço e até a próxima!
Conclusão editorial: A entrevista com o Prof. Adriano Mauro Cansian mostra que cibersegurança vai muito além de senhas e antivírus: é um campo estratégico para a soberania digital do país. Ao aproximar universidades públicas e empresas privadas, a Unesp demonstra que pesquisa científica e inovação podem — e devem — caminhar juntas para fortalecer a economia, proteger dados e formar novos talentos.
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